Acidente de Trabalho

Neste tema posso garantir ao leitor que se trata de algo muito antigo, além do que até imaginamos, podemos dizer que desde nossos primórdios, quando Deus criou o homem, desde então encontramos descritos sobre “acidente” havendo Deus reservado cidades de refúgio para abrigar o homicida que matar alguém involuntariamente (Nm 35:11), ou seja acidentalmente o homem cometia esse crime e lhe era assegurado proteção por seus vingadores. Outros tipos de acidente também deveriam ocorrer mesmo que não revelados na bíblia porque mesmo o homem sendo dono de suas provisões, havia a necessidade de plantio e colheita que não isentava de qualquer risco, isto sem se falar na labuta pela caça, pesca e construção de moradias. Mesmo que nestes recônditos períodos não tínhamos a figura do empregador que contratava seus funcionários, afirmamos que, a origem do acidente não se caracterizou pelas condições, e sim, em tudo o que fazemos seja para sustento ou nos abrigar, com uso de ferramentas ou não, haverá sempre o perigo de algo não dar certo e o acidente acontecer, ou na melhor das hipóteses o quase-acidente.

De certa forma, vamos admitir que antigamente os acidentes eram menores do que hoje em dia, ou também que não temos estes registros como atualmente possuímos, mas uma coisa deve ser esclarecida – as medidas de proteção e estudos preventivos atuais vem evitando e salvando várias vidas daquilo que seria fatal por sua ausência.

Veremos alguns métodos e estudos acerca dos acidentes ocupacionais em uma visão daqueles que se dedicaram partes de suas vidas com o intuito de decifrar comportamentos e fatores que antecedem o momento crucial para muitos trabalhadores e, que refletem simultaneamente sobre as empresas.

Para começarmos, antes gostaria de sugerir o que a OHSAS classifica como acidente e quase acidente:

Acidente – Evento não planejado que resulta em morte, doença, lesão, dano ou outra perda.

Incidente – Evento que deu origem a um acidente ou que tinha o potencial de levar a um acidente.

Veja que quase acidente está inserido na definição de incidente, ou seja, aquilo que ocorrer e não gerar em doença, dano ou outra perda será considerado.

Iniciamos então pela visão de nossos pioneiros que enxergavam tudo como a teoria do evento único, o que quer dizer isto? Simples fato de; explicar os acidentes por um único evento, responsável, capaz de definir a causa. Ainda como causas de conseqüências humanas. Vieram seus sucessores, tendo relatado em seus estudos, os quais apontaram para mais de 96% dos acidentes, como o comportamento de risco a causa principal. A partir disto se intensificaram diversas pesquisas e teorias para alcançar respostas satisfatórias. Hoje é mais fácil verificar várias teorias e com base nelas, estabelecermos hipóteses, como é o caso de Itiro Lida (2002) que classificou os diversos modelos de acidente, como modelo seqüencial e modelo fatorial.

Modelos Seqüenciais

Talvez se nada antes tivesse sido descrito, o que tudo indica é que Heinrich (1959) com o discurso da teoria “Dominó”, deu início aos pensamentos de que 5 (cinco) eventos encadeados que levariam a lesão do trabalhador:

1) Personalidade;

2) Falhas Humanas;

3) Causas de acidente (condições inadequadas e atos inseguros)

4) Acidentes; e

5) Lesão.

Acreditar-se que a prevenção deveria agir antecipadamente aos eventos, para bloquear então a queda dos “dominós” . Neste caso em particular o estudioso Raouf (1998) diz que a Teoria Dominó, previa que 88% dos acidentes, ocorre devido a ato inseguro, 10% devido a condições inseguras e 2% por “vontade de Deus”.

Veja que as idéias são parelhas, e tendo como objetivo o trabalhador, que sempre era visto como figura principal das falhas. Nota-se que em pouco tempo Ramsey (1978) começaria sutilmente nos levar a idéia do ambiente de trabalho como algo de atenção. Vejamos:

Em sua teoria dizia-se da pessoa exposta a uma condição insegura, apresentaria os seguintes comportamentos seqüenciais;

· Percepção do perigo (órgãos sensoriais)

· Identificação do perigo (processamento da informação)

· Decisão de evitar o perigo (escolha da alternativa)

· Habilidade para evitar o perigo (habilidade motora, força, tempo de reação)

Foi a partir daí que nossos especialistas começaram a ter uma visão holística daqueles acontecimentos, ora subjulgados aos trabalhadores, na mesma época passou-se a estudar a teoria das ramificações dos eventos, na realidade, fora adaptada da necessidade em que o programa militar americano de mísseis, tinha em prever acidentes, surge então o método seqüencial mais elaborado, proposto também por Leplat e Rasmussen (1984). Os autores desse método salientam que, em vez de ficar procurando quem foi o “culpado” pelo acidente, é melhor fazer uma análise das falhas que ocasionaram esse acidente, com o objetivo de eliminá-los, para que as mesmas não se repitam futuramente.

Encontraremos muitas outras ideologias, como a de Benner (1978) com a Teoria do Processo, que classifica acidente como uma segmentação de um continuum de atividades, propondo então seu acompanhamento como um processo, partindo em analisar as mudanças de estado e dos eventos (evento = ator + ação), sendo assim, após mudanças no evento, esta produzirá mudanças de estado, que dará subsídios para gerar hipóteses ligadas ao procedimento. O mesmo fecha com a seguinte frase “ Todos e tudo sempre tem que estar em algum lugar fazendo alguma coisa”.

Embrey (1992) não foge muito desta idéia, ele elaborou o modelo chamado “MACHINE” (Model of Accident Causation on using Hierarchical Influence Network), sendo categórico e quase óbvio em afirmar que as causas diretas dos acidentes são uma combinação de erros humanos, falhas de equipamentos e eventos externos ao sistema.

Quem somos nós para criticarmos alguns autores, mas o que dizer do modelo de Reason (Queijo Suiço), onde vários seguidores desta teoria tratam o erro como um papel moral, assumindo que coisas ruins acontecem com pessoas ruins (Reason 2000)

Por final certo de que não conseguira mudar a natureza humana, sua proposta é mudar então as condições sob as quais os seres humanos trabalham, me parece até um tratamento dispensado a irracionais. Ele deixou simplesmente de crucificar alguém em especial e numa espécie de generalização e num impulso de desistência ao potencial humano, valorizou as barreiras e salvaguardas, intensificando o motivo de suas falhas.

E quando essas barreiras cedem, são comparadas a buracos do queijo, alimentando a possibilidade de acidentes. Porém de forma diferente do queijo, esses buracos estão continuamente abrindo e fechando em diferentes momentos.

Podendo assim numa analogia, citarmos como exemplo o acidente de Chernobyl, onde um operador violou as regras da planta nuclear desligando um a um os sistemas de segurança, gerando uma explosão no núcleo do reator.

Ao analisarmos os acidentes, percebemos que as coisas acontecem conforme o dito popular “depois que aconteceu é que se tomou providência” e é o que realmente se faz, por exemplo, em um modelo explicativo como o Iceberg, o que se enxerga é o topo, no caso do acidente, são vistos e estudados somente aqueles que geram o afastamento do trabalhador, aqueles sem afastamento e os quase acidentes não são tratados, ficam submersos como enormes placas de gelo nas profundezas oceânicas, ao invés disto deveríamos adotar outro ditado popular aquele que diz “antes prevenir do remediar”.

Portanto após os resultados dos acidentes, muitas das vezes ocorria punição aos funcionários e Cooper (2005) defendeu que o medo das punições pode afastar o trabalhador do programa de prevenções em segurança, portanto, as melhores estratégias são as que eles mesmos se vigiem e reportem o comportamento inseguro do colega, ele sugeriu ainda, que o denunciado deveria passar por programa de conscientização dos riscos, já os que conseguissem manter seus comportamentos seguros seriam premiados, ora nem posso imaginar que tipo de delatores estariam sendo preparados nas empresas que adotaram estes procedimentos.

Concluindo e conforme a preferência de vários autores, ratificamos os Modelos Fatoriais, mais aceitos para explicar a ocorrência de acidentes. Segundo estes não existiriam uma seqüência lógica ou temporal de eventos, mas um conjunto de fatores que interagem entre si, continuamente, e cujo desfecho pode ser um acidente ou quase-acidente. Os fatores normalmente incluídos em estudos de acidentes são: a tarefa; as máquinas e ferramentas; o trabalhador; a personalidade; a sonolência; a estrutura organizacional e o ambiente físico.

De tudo que vi e pude observar me arrisco em encerrar este artigo com uma frase:

“O importante é poder conciliar material humano capacitado com ambiente propício, aliados a instrumentos de qualidade que conduzirão a condições e subsídios de rastreabilidade para um futuro de desempenho expressivo e de qualidade”.

FIM

Marcelo Ferreira

Técnico em Segurança do Trabalho

macerreira@gmail.com

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