Redução de Acidentes no Trabalho
Primeira coisa que nos perguntamos,
quando se trata de acidente, é se apenas a sua redução é suficiente? Mas antes
de respondermos, convido você para refletir sobre a matéria da ABRH-Nacional
(Associação Brasileira de Recursos Humanos) que destacou o trabalho realizado
pelo grupo Libra no tocante a redução de 72% dos acidentes com afastamentos
ocorridos em 2012 para o ano seguinte.
A primeira impressão para quem lê essa matéria é de exaltação, e muitos diriam, que trabalho maravilhoso..., que preocupação com a segurança do funcionário..., mas talvez deixamos passar despercebido algumas peculiaridades ditas pelo gerente de Sustentabilidade e Segurança do Trabalho, vejamos:
A primeira impressão para quem lê essa matéria é de exaltação, e muitos diriam, que trabalho maravilhoso..., que preocupação com a segurança do funcionário..., mas talvez deixamos passar despercebido algumas peculiaridades ditas pelo gerente de Sustentabilidade e Segurança do Trabalho, vejamos:
“
Tivemos uma diminuição bastante
significativa no ano passado, o que nos motivou a dar continuidade nesse
trabalho. Um dos grandes desafios é a meta de 'zero acidentes com afastamento
até 2018’ em todas as unidades. Tenho certeza que temos tudo para alcançá-la.
”
Observe que a preocupação está em, "zero acidentes com afastamento até 2018", aí que está o ponto crucial em que as empresas sempre demonstram
intrinsecamente sua intenção e, inegavelmente deixa em segundo plano a segurança
do trabalhador.
Vamos analisar o depoimento por
partes, (zero acidentes), perceba que há uma projeção à longo prazo, (planejamento
que deve ser repudiado pela segurança no trabalho), essa ideia não pode ser
igualada aos projetos tecnológicos ou a outros investimentos de sucesso
empresarial, mas sim ser enxergado como causas de dano, sofrimento e invalidez
às pessoas, e em se tratando de acidentes, entendemos que 2018 se conclui por quatro
anos à frente e os adoecimentos e as lesões não podem esperar tanto tempo assim,
além disso, devemos atentar para que a meta seja projetada para todo e qualquer
tipo de acidente, ou aqueles acreditados poderão optar pelos incidentes de
acordo com a definição da OSHAS 18001.
A preocupação em torno disso, gera
desconforto quando imaginamos que ao aplicar tais procedimentos para esses
casos, o que estão reservando para os acidentes sem afastamento e as condições
inseguras que ainda não desencadearam prejuízos, ou pior, lembraram deles? Provavelmente
não, caso contrário, para este caso a meta estaria estabelecida para o ano de
2050, ou quando chegar em 2018 se a meta dos acidentes com afastamentos for alcançada,
as outras situações poderão incomodar?
A crítica se faz sobre dois
pontos; 1) acidentes com afastamentos são resultados de acidentes sem
afastamentos ou de qualquer outro evento não tratado (Pirâmide de Frank Bird),
que sempre tem por origem a falta de gestão; 2) projetar uma resposta temporal
para eliminar acidentes que não seja imediata é a mesma coisa que “tapar o sol
com a peneira”.
Este fenômeno pode ser
considerado como um desvio no
entendimento em planejar ações, que veladamente produz métodos sobre a
causas-raízes, mas na realidade somente algumas causas são tratadas, enquanto
que a raiz permanece intacta, demonstrando com isso, ausência de medidas
incisivas na eliminação dos acidentes, e justamente neste contexto que artigos
e matérias tomam destaque e entram na mídia como importantes veículos de práticas
inovadoras em segurança ocupacional.
Tal prática comumente usada nas mais
diversas organizações, como por exemplo; onde uma equipe multidisciplinar de um
grupo de grande porte no segmento de comércio atacadista, vislumbrou seus
objetivos planejando a diminuição dos acidentes médios como plano estratégico
para o decorrente ano, conforme quadro disposto nas dependências da empresa.
Observe ao lado esquerdo da
imagem que em seus “objetivos”, são almejados
1 acidente com lesão leve/médio e no patamar abaixo da pirâmide são
aceitos 3 acidentes sem lesão.
A característica acima demonstra uma visão egoísta
e de interesse unilateral, negligenciando o lado frágil, onde colaboradores só
entram na pauta quando ocorre déficit de produtividade, do contrário são vistos
como ferramentas utilizadas em estatísticas nos afastamentos e nos números de dias perdidos por acidente.
Com relação ao artigo da
ABRH-Nacional, destacamos ainda, a participação do presidente do grupo Libra
que junto dos trabalhadores, participou de um grande evento voltado ao “comportamento seguro no dia a dia de
trabalho”, discutindo sobre os seguintes assuntos:
“ ... a importância da vigilância constante de todos para garantir
comportamentos seguros nas operações e o uso correto de EPIs (equipamentos de
proteção individual), sem perder a qualidade de serviço aos clientes.”
A “vigilância constante de todos”, é um grande passo para erradicar os
acidentes em qualquer organização, mas o uso de EPI não deve ter o mesmo
destaque, por se tratar de uma medida de menor eficácia e de última aplicação,
ou seja, a declaração do presidente, com aparência impactante, está dentro do
mínimo esperado de uma organização em resoluções de acidentes, por outro lado
os seus reais interesses permanecem inabalados e a lacuna continua sobre a questão,
até que ponto esta aparência
impactante será vista positivamente?
Enquanto isso se presencia na prática, que certas atitudes não trazem ao
colaborador, o conforto, a confiança, a disposição e principalmente o estímulo
em produzir os resultados esperados pela organização.
Para mudar esse quadro e apresentar uma metodologia transparente de “acidente
zero”, o discurso da vigilância é primordial, pois o princípio está na autodeclaração
da direção em apoiar as iniciativas em segurança ocupacional, o que não deve
ser encarado como uma ação ímpar e suprema, mas como o primeiro passo de um ciclo
virtuoso e, para não tropeçar nos próximos passos, é preciso ter clareza quanto
a participação de todos os associados, que além de acompanharem as medidas
implementadas, se sentirão importantes, valorizados e ao final se tornarão os
principais contribuintes para o projeto, certo de que são os mais interessados
e os que mais conhecem do ofício, para finalmente imbuir a tudo isso às técnicas em segurança e saúde no trabalho de modo
sutil e eficiente.
Concluindo sobre a participação do presidente executivo do Grupo Libra,
diante da campanha denominada “Dia da Segurança”, e sobre tudo que se propôs
nesse dia, não conseguimos identificar propostas imediatas para acidente
zero, ambiente mais seguro e coisas do tipo como temas principais se sobrepondo sobre o dito “zero acidentes com
afastamento para 2018” e também sobre qualquer aspiração referente ao aumento
da produtividade.
Encerramos, enfatizando sobre a importância de assuntos envolvendo a
prevenção, geralmente o caminho a ser trilhado é árduo, diferente daqueles
percorridos com interesses particulares e empresariais, nele se deve abolir qualquer hipótese de convivência
com acidentes médios, leves e também aqueles sem afastamentos, ter objetivos
voltados na
“blindagem” do trabalhador, que é o único a
sofrer com as diversidades e situações que a própria empresa cria, e reconhecê-lo
como o bem maior de proteção e preservação.
Obs: O texto da ABRH-NACIONAL se
encontra no endereço abaixo:
Marcelo Ferreira
Gestor em SSO
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